HISTÓRICO
MSMT | São Marcos
A Missão Salesiana de São Marcos foi fundada oficialmente no dia 24 de abril de 1958, dia de São Marcos. Os Xavante vieram inicialmente da região ao norte do Rio das Mortes para Meruri, quando era então diretor o P. Bruno Mariano, em busca de apoio para sua sobrevivência, ameaçada pelos fazendeiros, pelas doenças. Em seguida, os Xavante construíram uma Aldeia no Boqueirão e em 1958 vieram para São Marcos, acompanhados pelo P. Salvador Papa e Me. Adalberto Heide e apoiados pelo P. Bruno Mariano, que era Diretor de Meruri. No segundo semestre vieram os clérigos Pedro Gawlik e Bartolomeo Giaccaria. No ano seguinte vieram P. Pedro Sbardelloto, P. Fernando.
Em 1962, o P. Mário Panziera assume a direção da Missão até 1970, depois veio P. Mário Gosso, P. Miguel Paes, P. Gino Fávaro, P. Luiz Leal e P. Osmar Resende. Após seis anos da chegada dos SDB, as Filhas de Maria Auxiliadora chegaram a São Marcos. Era o dia 3 de março de 1964, e a comunidade era formada por três Irmãs: Giuseppina Molteni, Ida Altoé e Iolanda Verzeni e duas jovens voluntárias: Josina Maria Ludumila Silva e Maria Luiza Morais. Chegaram a São Marcos num caminhão carregado de bagagens, dirigido pelo diretor P. Mário Panziera. Ao entrarem na casa o primeiro encontro das Irmãs foi com a estátua de Maria Auxiliadora ali colocada pelo P. Mário.
A educação e a promoção da juventude é o principal objetivo do trabalho salesiano. Em São Marcos não foi diferente. Foi junto aos jovens Xavante que os SDB e, logo depois, as FMA desenvolveram o seu trabalho. As primeiras atividades escolares em São Marcos foram informais, relegadas a um plano secundário, apêndice dos trabalhos nas roças. Ausência de estrutura física, não havia horários rígidos, pois as aulas dependiam da quantidade de trabalho que tinha que ser feito na roça. Os conteúdos eram basicamente os temas catequéticos, o discurso da conversão. A didática era muito pessoal, de acordo com as habilidades do professor… Além da construção da aldeia e da Missão, outros fatores concorreram para relegar inicialmente as instruções escolares a segundo ou terceiro plano. O combate a doenças como sarampo e tuberculose, acomodação de novos grupos Xavante que vieram para a aldeia (grupo de Batovi em 1964, Suiá-Missu em 1966), construção do complexo missionário, foram situações que marcaram os primeiros dez anos da história Xavante em São Marcos.
A escola dos missionários para os Xavante só foi minimamente organizada após 1964, com a chegada das Irmãs Salesianas à aldeia. Um fato marcante lembrado pelos missionários e pelos Xavante foi o sangue derramado pelo P. Pedro Sbardelotto, que apanhou de chicote por um fazendeiro da região. A escola estadual de São Marcos foi criada em 26 de agosto de 1974, pelo Decreto nº 2.179. A escola procura ser diferenciada, valorizando, respeitando, incentivando o cultivo da própria cultura. Em 2008 comemoramos os 50 anos da Missão. A festa foi toda organizada pelos próprios Xavante, num sinal de gratidão, de organização e de espírito empreendedor.
MSMT | Sagrado Coração Meruri
Os primeiros salesianos chegaram a esta terra Bororo aos 18 de janeiro de 1902. Eram salesianos, salesianas e leigos, que vieram com o objetivo de desenvolver um trabalho educativo-pastoral em conjunto. O Diretor era o Pe. João Bálzola e a Diretora era a Irmã Rosa Kiste. Construíram a primeira missão na região
denominada “toripó” (Tachos). Aí fizeram os primeiros contatos com o Povo Bororo, desenvolvendo posteriormente atividades educativas e de auto sustento. Devido a problemas com a escassez de água, a Missão foi depois transferida para a região próxima ao Morro de Meruri, às margens do Córrego Barreiro, dando origem à atual Aldeia Meruri, que é a aldeia principal e a sede da Missão Salesiana até hoje.
A história da Missão pode ser mais bem compreendida nos seguintes períodos:
1° Período: de 1902 a 1919
A Missão era composta exclusivamente por índios Bororos atendidos pelos Salesianos e Irmãs, com a colaboração de voluntárias leigas e alguns empregados, primeiro na Colônia Sagrado Coração, nos Tachos. De 1905 até 1921 também se estendeu à Colônia Imaculada, na beira da cachoeira do Córrego Araci, próximo ao Rio Garças. Caracteriza-se pela assistência exclusiva aos Bororos, pois não consta nos registros paroquiais a presença de fiéis não índios na região. A Missão, durante este período, dá aos Bororos assistência econômica, à saúde, à educação e à evangelização. Em 1903, foi criada a atual Escola Sagrado Coração de Jesus, com o ensinamento de Português, Matemática, Ciências e Práticas Agrícolas para os meninos e oficinas de tecelagem para as meninas. As viagens e os transportes entre Cuiabá e as Missões e entre os diversos centros missionários são feitos a cavalo, em lombo de burro e em carro de bois. A Missão investe em recursos humanos e em recursos econômicos, estes últimos conseguidos principalmente do governo do Estado e da França, através do Pe. Antônio Malan. Durante este período, prevendo a ocupação do território por parte de não índios, a Missão procurou que fossem asseguradas para os Bororos várias áreas que mais tarde integrariam a atual reserva de Meruri.
2° Período: de 1919 a 1941
Conseguidos dois lotes de 25.000 ha., doados pelo governador do Estado, Dom Aquino Correa, a Missão procura seu auto-sustento econômico com o trabalho dos missionários, servidores não índios e Bororos, pois não é mais possível conseguir recursos de fora. Percebe-se o início de uma crise no atendimento aos índios. A Colônia Imaculada é fechada. A sede da Missão se translada dos Tachos para Meruri (no fim da década de 1920). Motivo: as áreas férteis se esgotam nos “Tachos” e as roças para sustento dos índios começam a ser feitas nas imediações do morro de Meruri. Também porque a água dos “Tachos” é insuficiente, enquanto que em Meruri as cabeceiras oferecem água abundante e sadia. Pelos anos 1934-1935 os missionários chegaram a planejar o translado da missão de Meruri para Sangradouro. A população não índia começa a marcar presença cada vez mais numerosa e surge o sistema de atendimento por desobriga aos núcleos de garimpeiros e criadores que vão se estabelecendo na região. As viagens de desobriga são feitas a cavalo. As comunicações e transportes continuam em lombo de burro ou em carro de bois.
3° Período: de 1941 a 1965
O número de bororos diminui ainda mais, seja pela diminuição dos nascimentos, pelo aumento de mortalidade (dos 70 Bororos batizados entre 1941 e 1960, 38 não existiam mais em 1960), e pelas mudanças de famílias para aldeias do Rio São Lourenço, se bem que alguns Bororos do Rio Vermelho vêm se estabelecer também em Meruri. O intercâmbio de pessoal Bororo por migrações de uma região para outra se acentua nesse período. O atendimento aos indígenas passa ao segundo plano para atender as numerosas fazendas a corruptelas de garimpeiros que surgem na região e à escola para filhos de colonos junto com os quais estudam também as crianças Bororos. Em 1942 tem início o internato para filhos de colonos da região e de moradores das cidades que vão surgindo, tais como, Barra do Garças e General Carneiro, onde neste período ainda não existiam escolas. Um ambulatório dá atendimento à saúde de índios e colonos. Neste período os missionários itinerantes visitavam as corruptelas de garimpeiros, tais como, General Carneiro, Barigajao, Cachoeira Rica, Morro de Mesa, Batovi, Diamantino, Lajeado, pregando-lhes o Evangelho e administrando-lhes os sacramentos. Meruri atendia a população escolar de todas as regiões acima mencionadas, além de vários alunos internos procedentes de Barra do Garças e das cidades goianas de Bom Jardim e Piranhas. Pela metade da década de 1950, durante a direção do Pe. Bruno Mariano, foram reformadas as habitações das Irmãs e os ambientes da Escola, sendo tudo construído com tijolo e telha. De 1963 a 1964 foram construídas as casas de material para as famílias Bororos da aldeia de Meruri. Nesta época aparecem os primeiros veículos para transporte de mercadorias, adquiridas em Cuiabá ou Uberlândia: os caminhões e os cavaleiros. Os trilheiros de carros de bois se convertem nas primeiras estradas da região. Neles, algumas vezes por ano, transita o caminhão da missão ou de alguns comerciantes. Nesta época tem início os vôos periódicos dos aviões da FAB, vindos de Campo Grande rumo a Cuiabá. Neste período têm início os problemas de terra: começam a ser ocupadas por não índios as áreas vizinhas à Missão e tradicionalmente usadas pelos Bororos nas suas caçadas, pescarias, inclusive áreas oficialmente reservadas para atendimento deles. Pelos anos 1956 a 1957 chega a Meruri um numeroso grupo de Xavantes que são atendidos pela Missão e pelos Bororos até o seu translado e estabelecimento definitivo em São Marcos.
4° Período: de 1965 a 1980
É um período em que a Missão, após o longo diretorado do Pe. Bruno Mariano, começa o diretorado do Pe. João Falco, o qual dá uma virada no sistema de atendimento aos índios. A população Bororo de Meruri aumenta com a chegada de um grupo de Bororos de Pobojari (Reserva de Jarudori), conservadores da língua e tradições Bororos. Com a fundação do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), em 1972, o compromisso missionário de evangelização passa a ser também de apoio aos índios na conservação da cultura, da língua e ao direito a um território onde possam continuar vivendo como povos diferenciados. É construído o hospital e aprimora-se o atendimento à saúde dos Bororos com a colaboração de especialistas de Minas Gerais e São Paulo. Especialmente do Dr. Geraldo Chaves Salomon, professor da USP, o qual, num trabalho de mais de dez anos, conseguiu erradicar a tuberculose entre os Bororos e Xavantes das Missões Salesianas. Com a venda das terras dos dois lotes, por parte do governo do Estado, os conflitos de terra chegam à sua culminância e terminam em 1976, com a re-demarcação da Área Indígena Bororo de Meruri, que custou a vida ao então Diretor e Pároco de Meruri, Pe. Rodolfo Lunkenbein e ao Bororo Simão Cristino Koge Ekudugodu. Foram assassinados por fazendeiros da região, contrários à demarcação da reserva indígena. Tendo já escolas em Barra do Garças e General Carneiro e, morando na área demarcada somente os Bororos, o internato e externato para alunos não índios em Meruri são desativados, ficando a escola somente para alunos Bororos. Em 1973 a escola é oficialmente reconhecida como Escola Indígena Estadual. Em 1974 acontece a primeira Assembléia do CIMI Regional de Mato Grosso em Meruri. A Missão, dentro das linhas de ação do CIMI, inicia o processo de formação de professores e enfermeiros indígenas. O atendimento religioso à população não índia continua nas áreas acima mencionadas, menos em Meruri, onde se começa a dar um atendimento diferenciado aos Bororos.
5° Período: de 1980 aos dias atuais
Diminui o atendimento à população não índia a partir de Meruri pelo surgimento de novas paróquias na região, tais como São Marcos, São Joaquim e General Carneiro. E aumenta a população Bororo como resultado da demarcação da Área Indígena Bororo de Meruri, pelo atendimento mais específico à população Bororo, e pelo atendimento aos Bororos da área de Tadarimana, cujos batizados são registrados em Meruri. A população Bororo recebe atendimento específico em Meruri, enquanto a população não índia é atendida no distrito de Paredão Grande. Com o aumento dos alunos Bororos a escola, além do Ensino Fundamental cria, em 2009, também o Ensino Médio. Os professores são todos Bororos e a maioria tem curso superior. Merece destaque a criação do Centro de Cultura Pe. Rodolfo Lunkenbein, inaugurado em 2001, o qual, hoje, é referência nacional na revitalização da cultura indígena.